quinta-feira, 4 de maio de 2017

Os preparativos para o AUDAX

Minha preparação para a série em 2017
Inicialmente, se você chegou pela primeira vez aqui no meu blog talvez seja necessário ler as postagens anteriores para uma perfeita contextualização. Clique na coluna à direita para navegar pelas demais narrativas. Elas estão em ordem cronológica.

Continuando então, após a minha ciclo romaria para Aparecida em março de 2016, as viagens do trabalho aumentaram absurdamente naquele ano. Aliado a isso, um problema crônico que eu tinha no ombro direito voltou a incomodar e a doer demais, culminando numa intervenção cirúrgica e colocação de pinos para segurar os tendões. Foi o suficiente para empurrar os planos do projeto Super Rondonneur para 2017.

Então veio o Natal e com ele as sessões de fisioterapia. Depois disso o Ano Novo, fisioterapia, Carnaval, fisioterapia, férias, fisioterapia, e então finalmente eu consegui autorização do médico para voltar a pedalar, mas... sem deixar de lado a fisioterapia. Antes disso, e verdade seja dita, com apenas 4 semanas da cirurgia ele já havia me liberado para as corridinhas, que foram fundamentais para a manutenção do condicionamento e do bem estar. Enfim, peguei de leve a Scott no dia 01 de abril de 2017 e logo o projeto do Audax emergiu. 

Pois é, sou uma pessoa movida a desafios. Se eu não tiver uma meta eu fico apático e desmotivado, sem rumo. Completar a série dos 200, 300, 400 e 600 km já tinha sido um objetivo traçado mas não cumprido, e afinal de contas eu tinha comprado uma baita bicicleta só para isso. Vamos então retornar aos trilhos e traçar a estratégia!

Primeira etapa: definir o calendário!

Entrei no site do Randonneur Brasil e acessei o calendário nacional das provas do Audax (http://www.randonneursbrasil.org/calendario-2017/). Logo vi que eu estava lutando contra o tempo! Para conseguir o Super Randonneur eu deveria cumprir os quatro brevets até outubro, pois em novembro já muda o ano para a ACP. E ao tentar combinar as datas com sequência de eventos pelo país, vi que eu não tinha muita margem de modo que teria que fazer logo um BRM 200 para não perder as oportunidades dos BRMs 300 previstos para o final de maio, senão bye-bye para o SR em 2017.
Calendário de provas de 2017 disponível no site Randonneur Brasil

Então estabeleci que eu iria focar nas seguintes provas neste ano:

- BRM 200: 06 mai 17, em Itupeva/SP (organizado pelo Randonneurs Litoral)
- BRM 30020 mai 17, em Rio das Ostras/RJ (organizado pelo Audax Rio)
- BRM 40001 jul 17, no Rio de Janeiro/RJ (organizado pelo Audax Rio)
- BRM 60025 ago 17, em Florianópolis/SC (organizado pelo Audax Floripa)

Segunda etapa: o treinamento

Como as duas primeiras provas do Audax (a de 200 e a de 300) seriam obrigatórias e sem margem para falhas, os treinos teriam que começar imediatamente. Planejei correr apenas uma ou duas vezes por semana e pedalar 3 ou 4, com giros de 20 a 30 km de segunda a sexta-feira e pedais mais longos aos sábados e domingos. Também incluí alguns exercícios de fortalecimento pliométricos para core e membros inferiores, os quais faria 2 vezes por semana. Porém, como eu estava afastado das bikes a muito tempo eu ainda teria um grande problema a vencer que era me reacostumar com o selim!

Segui o plano, inicialmente dando uma folga de pelo menos um dia entre um pedal e outro. Nos primeiros treinos a região do períneo ficou dolorida mas depois de 10 dias eu já não sentia mais nada. Com 22 dias do meu retorno eu encarei 100 km com a speed e não tive qualquer desconforto nos fundos (link do pedal no Strava). Nesse pedal aliás, eu tirei um importante ensinamento sobre ser auto-suficiente com sais e eletrólitos. Desde as cãibras do Desafio 100 km em Floripa (clique aqui para o relato), eu tinha aprendido que tinha que tomar isotônicos quase que na mesma proporção da água. O problema é que diferente de todos os outros pedais mais duradouros que eu tinha feito até então, nesse último treino eu não encontrei nenhum lugar aberto que vendesse o produto na beira da estrada. Como resultado, nos últimos 15 km e com forte vento contra, as pernas começaram a travar e tive que diminuir bastante a velocidade. Cheguei em casa com bastante dor, que só foi resolvida após Gatorade e lanches salgados.

Continuei de acordo com o previsto, fazendo meu último giro 4 dias antes da estréia no brevet de Itupeva/SP. Nesse treino eu percorri uma distância de 36 km no ritmo mais forte que consegui, derrubando todos os meus recordes pessoais (RPs) do trajeto, terminando com uma média de 27,5 km/h, velocidade impensável até então para mim, levando em consideração a elevação acumulada de 439 m, proporção bem parecida com a do BRM 200 de Itupeva que eu iria enfrentar.

Terceira etapa: preparação da bicicleta e dos equipamentos

Abaixo eu irei relacionar todos os itens que eu pretendo levar para as provas do Audax, elencando entre parêntesis, de forma sucinta, a justificativa de cada objeto.

As organizações do Audax fazem 4 exigências básicas e obrigatórias no tocante a equipamentos. São eles:

- 2 luzes traseiras na cor vermelha (sinalização aos demais veículos);
- 2 faróis dianteiros (iluminar o caminho à frente);
- colete refletivo (ficar visível quando iluminado pelos faróis dos demais veículos); e
- manta aluminizada, a partir do BRM 300 (abrigo ou tratamento de hipotermia).

Além dos itens obrigatórios, entendo que deve também integrar o check list de qualquer um que deseje ter sucesso em provas ciclísticas longas:

- capacete (proteção);
- luvas (conforto e proteção);
- sapatilha de ciclismo (eficiência e segurança na pedalada);
- bermuda de ciclismo ou bretelle (conforto);
- blusa de ciclismo com bolsos traseiros (conforto e para carregar objetos);
- óculos de proteção com lentes para o dia e para a noite (proteção);
- blusa corta-vento (conforto e prevenção contra hipotermia);
- caramanhola (hidratação);
- câmaras reservas (substituição de alguma em caso de furo);
- kit remendo (consertar câmaras furadas caso as reservas acabem);
- espátulas (desmontagem do pneu e troca de câmara);
- bomba para encher pneu (encher a câmara);
- baterias sobressalentes (reserva para o sistema de iluminação);
- ciclocomputador (medir as distâncias e fazer navegação);
- celular (emergências e registro da pedalada);
- protetor solar (proteção);
- dinheiro trocado (alimentação, panes, transporte, etc);
- documentos pessoais (identificação, sobretudo em caso de acidente);
- bolsa de selim (carregar os acessórios).

Pessoalmente eu ainda adicionei os seguintes itens à minha relação:

- GPS (equipamento próprio para navegação);
- Power Bank (carregar o celular e o farol);
- cabos USB (conexão do celular e do GPS);
- sinalizador traseiro extra (maximizar a minha visualização aos demais veículos);
- sinalizador dianteiro piscante (maximizar a minha visualização aos demais veículos);
- adaptador de válvula presta para schrader (calibrar pneu em posto de gasolina);
- extensor para a bomba de pneu (encher o pneu mais rápido com a bomba manual);
- canivete multifunção (eventuais consertos na bike);
- chave de corrente (emendar corrente quebrada);
- fita isolante (coringa para diversas funções não previstas);
- bolsa de guidão (guardar o restante dos objetos);
- pneu reserva (em caso de rasgo de algum principal);
- caramanhola extra (água ou isotônico);
- meia de compressão (melhora a circulação e protege do frio)
- géis de carboidrato com e sem cafeína (reposição energética);
- barras de proteína (reposição de proteína para não catabolizar);
- isotônico efervescente ou em sachê (quando não encontrar isotônico nas paradas);
- mix de frutas desidratadas (complemento de alimentação);
- cartão do plano de saúde (necessidades médicas);
- cartão de crédito (pagamentos diversos e mais custosos);
- mapa da rota impresso (redundância para o caso do GPS falhar);
- planilha da rota impressa (redundância para o caso do GPS falhar);
- porta celular à prova d´água para celular (proteção contra chuva);
- saco estanque para demais itens que não podem molhar (proteção contra chuva).

Itens em análise:
- creme chamois ou vaselina (prevenção contra assaduras);
- bandana (proteção contra o sol);
- analgésico (no caso de dores musculares).

Depois de separar esses itens, foi necessário arrumar uma forma de colocar tudo na bicicleta e na minha roupa. Pode parecer muito, e realmente é mesmo, mas cabe tudo de forma bem harmoniosa e nem ocupa muito espaço. Tem gente que fica preocupado demais com o peso extra, mas para mim, que atualmente estou com 98 kg, isso não representa algo significativo Meu conforto é a minha segurança e vice-versa. Enfim, depois de acomodado foi necessário testar tudo nas mesmas condições da prova, ou seja, em pedais longos, de dia e de noite, no sol e na chuva. Foi necessário aprender a mexer no GPS (principalmente configurar e gerenciar a rota, colocar os pontos dos PCs e paradas planejadas, além de demais parâmetros); trocar o pneu de forma eficiente (rápida e correta, observando o posicionamento da fita anti-furo e verificando se não ficaram resquícios de sujeira e/ou arames dentro), saber fazer um remendo na câmara, saber sacar um elo da corrente, verificar quando e em quais condições usar a blusa corta-vento (no caso da minha, funciona também como capa de chuva). 

Obviamente nos testes que eu fazia foi normal de acontecerem problemas, afinal os erros são parte do aprendizado e eu teria margem para errar à vontade nos treinamentos, já na prova isso poderia ser crítico. Algo, por exemplo, que me fez testar inúmeras configurações foi o sistema de iluminação, já que dos dois faróis que eu tenho, um é extremamente forte, mas não tem bateria, sendo alimentado diretamente via USB e, portanto, o esquema em caso de chuva teve que ser bem pensado e provado (utilizei saco zip-lock). O outro farol é mais fraco, porém usa 2 baterias CR-2032 bem pequenas e que posso levar 2 ou 3 conjuntos sobressalentes. Fiquei então experimentando os posicionamentos no guidão e as situações em que usaria um ou outro, até que cheguei à solução ideal com a lanterna mais forte bem ao lado da mesa e a mais fraca no meu capacete. Outra prova foi com o Power Bank pois ele deveria suportar uma quantidade de tempo mínima para uso do farol. Com isso fiz experiências nos 3 modelos que eu tenho em casa. Contatei que apenas um deles suportava ao menos 7 horas na potência mais forte e os demais não aguentaram nem 30 minutos cada. Coisas da China! Já as luzes traseiras principais eu fiz experimentos em várias posições até decidir que o melhor seria nos seat stay, um de cada lado, sobretudo porque eu ainda terei uma luz sobressalente debaixo do selim e outra no capacete.

Outro cuidado que eu tive foi providenciar uma limpeza e checagem geral na bicicleta. Nesse ponto, resolvi eu mesmo fazer até para pegar mais intimidade com a mecânica da speed. Aproveitei para trocar os antigos pneus que vieram com ela, substituindo pelos Vittoria Zaffiro Pro 700x25c, que são um pouco mais largos e com kevlar no interior para ficar mais resistente aos rasgos e furos. Na sequência, vistoriei as fitas dos aros, a fixação de cada um deles nas rodas, a blocagem, os freios e os conduítes. Lavei com desengraxante toda a transmissão, o que inclui a corrente e os câmbios dianteiro e traseiro; depois lubrifiquei com óleo apropriado, removendo o excesso com um pano seco.
Bike preparada com todos os equipamentos para o BRM 200

Importante dizer que essa etapa de preparação dos equipamentos começou intensivamente uns 20 dias antes do brevet. Na verdade, até hoje, faltando dois dias para o BRM 200, cada vez que eu vejo a bicicleta eu penso na prova e checo alguma coisa, problematizo hipóteses. Acho que isso deverá fazer parte de todos os eventos que eu fizer no Audax, tendo sempre a segurança em primeiro lugar.

Quarta e última etapa: definição da estratégia para a prova

Máquina checada e pronta, faltava ainda a estratégia para a prova. No site da organização, o Clube Randonneurs Litoral, desde cerca de 2 meses antes eles já disponibilizavam o roteiro previsto. Lá tem um link para outro site especializado em rotas ciclísticas, onde é possível visualizar o trajeto de forma parecida com o Google Maps, alternando entre mapa e satélite, colocando ou tirando zoom, além de contar com o gráfico da altimetria do início ao fim. Pelo site é possível baixar o arquivo GPX com todos esses dados, o que foi importante para exportar para o meu GPS. Os organizadores também disponibilizaram a planilha do percurso, que nada mais é do que uma planificação da rota com as instruções de mudança de direção, nome das vias, distâncias acumuladas e ponto a ponto, e dos locais dos Postos de Controle (PCs).
Site com a rota da prova. Clique na imagem para visualizar.

Com todas as informações em mãos, passei a estudar detalhadamente o mapa para já ir memorizando os nomes dos principais pontos. Isso é importante porque tudo acontecerá em rodovias e cidades novas para mim e eu teria que estar familiarizado com a sinalização vertical que indica as direções para os diferentes lugares. Após, memorizei os locais de parada obrigatórios, que são os PCs, e mais alguns outros estratégicos para se eu estiver precisando descansar, me alimentar ou reidratar. Esses locais foram definidos com base na localização geográfica, aproximadamente no ponto médio entre um PC e outro. Com eles estabelecidos e plotados no meu GPS, eles funcionariam como parâmetro de referência para saber se eu estaria dentro dos limites previstos. 

Por fim, para efeito de estimativa do tempo de prova, com base no ganho de elevação do percurso e no meu desempenho nos meus últimos treinos, eu fiz uma previsão de término em 11 horas, caso não tenha problemas mecânicos ou furos de pneu. Isso daria uma média global em torno de 19 a 20 km/h, contando as paradas. Eu inclusive cheguei a pensar em dividir a jornada em 4 segmentos e definir uma média específica para cada um deles, mas para os 200 km eu ainda não acho necessário, mesmo porque a rota é muito parecida em toda a sua extensão, com muito sobe e desce constante, havendo apenas 3 subidas mais longas e que serão tratadas com leveza e delicadeza no momento que chegarem.

Tudo pronto, é hora de descansar. Os 4 dias antes do brevet são dedicados ao repouso para recuperação e acúmulo de energia com uma dieta diferenciada em carboidratos. Também pretendo disciplinar o meu sono para habituar o corpo com o horário mais cedo, principalmente nos 2 dias antes da largada.

Portanto, tudo planejado, treinado, checado, manutenido e definido. Não restando mais o que fazer, só tenho que torcer para que o grande dia chegue e que eu tenha um dia proveitoso, sempre com a proteção e a bênção de Deus. 

"Ele o cobrirá com suas penas, e sob suas asas estará seguro, pois sua verdade será escudo e defesa’" Sl 91: 4

2 comentários:

  1. Sucesso meu irmão. Sei como é gratificante concluir este desafio. Fé em Deus, pois treino você fez. Sucesso Deus te abençoe.

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    1. Deus sempre no comando meu amigo Davi Stanley! Quem sabe, se Ele permitir, eu consiga seguir o seu exemplo e me tornar um Super Randonneur. Um grande abraço e obrigado por todo o incentivo!

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